quinta-feira, 18 de maio de 2023
Theo partiu
A princesa e o papel
domingo, 2 de abril de 2023
Por Daniela Magalhães
Difícil escrever às moscas
Sem chão sem bicho
Na lerdeza intermitente da luz que não se sente bem vinda.
No espelho único a ferida também insistente
De aluno
Mesmo tão esclarecido
Prefere o riso tardio da interação com as moscas
que piora no fim da tarde.
E o vizinho de um porre de ritmo esquecido.
E a vizinha de fogo, perigo dos espaços vazios.
E a mãe que mata os filhos. 13 ao todo.
As crianças cachorros em pedra e seus donos de pedra
Caras certeiras e imóveis.
Me faltam tantos óleos quanto a fonte desregrada inundante.
E o ar traz a vontade lá de longe quando o silencio não mais
afoga.
Por falta de permissão das moscas.
Nos abandonaram as lagartixas e os rastros
Do invisível vizinho que nada na própria morte.
Ilustração: Cacinho
sábado, 1 de abril de 2023
Respostas ao Thiago
Por Daniela Magalhães
Focava na casta arrasada
De fada e de luz
Focava na farda
Até entre o pus
Mas tarda
Mas tarda
A tarde sem farda
Sem fada
Não basta o tempo do espírito?
Ou a cola dos números?
A carta um dia chegava
Nunca mais
A porta um dia quebrava
A chave um dia sumia
Continua la
A grade um dia cedia
Nunca vi tão forte
Já achei mais frias
A tarde
Essa sempre chega
Acordo meio que
Tropeço
Me enrolo no sol
Quando tem
Deixo cair
Que que eu to fazendo?
Pra onde vou
Tropeço
Ainda acordo meio que
Me esqueço no sol
Quando tem
Deixo cair mas não caio
Faz tempo
Tem que comer
Pra onde to indo mesmo?
Tem que comer
Me aqueço
Nem sempre danço
Pra quê?
Pra onde mesmo que eu to indo?
E olha que eu nem me perco
Já acordei
Meio que
Hoje não tem sol
* Dani Magalhães é nova acendedora do Pavio Curto. Circula na Região das Agullhas Negras/RJ e é coreógrafa, bailarina, baterista e poetisa.
Bem-vinda!!
Ilustração: Cristóvao Villela
Foto: Arquivo Pessoal
Homo céticos
Por Fabiola Rodrigues
Sons de armas explodem
Domínios de novas civilizações
Tendências caóticas homicidas
Gerenciadas por multidões
Decadências de almas que se atiram
Nas funções vagas do governo
Que instinto insiste em existir
Sem ouvir do povo o seu apelo
Mudanças no sistema e nas convenções
Segmentos sem guia ou visões
Novos conceitos para os pré-estabelecidos
Que serão criados pelos esclarecidos
Que desenvolvem notícias sem intenções
E armam guerras nas televisões
Ilustração: Cristóvão Villela
As Folhas e o Vento
De Ju kerexu
Sol, folha que desprendeu da árvore ancestral...
Sol, levada pelo sopro da sábia xejaryi (avó) que é o vento...
Sopros que me encorajam, que me levam sem perceber a lugares, nos espaços que em sonhos teria sonhado...
Somos feitos de sonhos, amores, pessoas que nos cercam, famílias, deixemos que os ventos nos atravessem, para dizer em sussurros os caminhos...
As folhas são nossos sonhos, deixem ele ser levado por nossa sábia velha senhora, para que ela possa colocar no seu devido lugar, que muitas vezes ficamos presos a elas...
É só deixar ir, nunca estará sozinha, o vento estará conduzindo...
Somos filhas e filhos do vento, somos folhas ao vento, somos sussurros de sabedorias guiadas pelos ancestrais...
Deixem soprar!
Ilustração: Cacinho
Por Daniela Magalhães
Procurei colchão largo
Pro meu campo de batalha
Encontrei no fio da saia
E o estrago da cabeça d'água
Achei, mas nunca vi
Me perdi no céu
do trilho a nado
Água que não acaba
Entrando em verde amargo
E o estrago da jararaca
Eu vi, mas não bebi
Muito bonita, por acaso...
Somos todas Elas
De Ju Kerexu
Sejamos como elas...
Sejamos Mulheres...
O mundo la pacha mama eres tu...
Somos nossas a vós, nossas bisavós, nossas mães...
Histórias, memórias, amores,Raízes, vidas...
A força das ancestrais nós trouxeram até aqui!
O mesmo caminho que nós foi dada,pisamos com força, sentido o coração da pacha mama bater,nos mesmos compasso com o nosso...
Sinta-se,ame-se, cuide-se, lute,lute,lute para nunca deixar de acreditar na sua força, no seu espírito de mulher...
Somos todas elas...
Somos a cura para o mundo...
Somos o sinônimo de amor infinito...
Aqui piso com força, reafirmo minhas ancestrais...
Aqui eu canto os mesmos cantos de cura das minhas avós, mães e filhas dessa mãe-terra...
Se olhe, vista-se com a roupas da ancestralidade,sinta ecoar em sua alma o mesmo sopros de cura e sabedoria das ancestrais...
Somos o início e o fim...
Corpos-mulher, aqui tão temida, aqui tão desprezada, aqui tão massacrada,aqui acorrentada,aqui desmembrada, mais que se enraizada nos ceios da pacha mama,assim florestas florescem para jogar suas sementes, nessa floresta da ancestralidade...
Quebraram-se as correntes, corpos massacradas de seu sangue derramado neste chão, se desabrocham para mostrar sua força...
Somos todas elas!
Reavive a mulher em ti,reavive suas raízes, reavive suas memórias de todas as mulheres em seu espírito.
Sua força me fortalece,se ilumine sempre,assim todas juntas iluminamos o mundo!
Por Fabiola Rodrigues
Minha terra tinha Palmeiras
Hoje nela nada gorjeia
O veneno escorre na areia
Deixa sangrar sua tez
Onde antes pulsava vida
Vê se apenas insensatez
Mas segue aflita a esperança
A reflorestar o sagrado
A curar o agravo
Da flora, fauna feridas
Um novo pulsar nas veias
Um olhar futuro criança
Fará preservar sua riqueza
Cuidar do solo vital
Expurgar dos rios o extermínio
E dos corações toda incerteza
Brademos contra criatura vil,
Que te fez sangrar meu Brasil!
Por Daniela Magalhães
Tô com preguiça de resenha
De correr atrás da lenha
E botar fogo pra ninguém pular
Tô com frio de ver estrela
De comer sem ter a mesa
Posta de fita congelada
Tô com medo de ver o mar
Ver o amor e afogar
Afobada
Acabei de conferir
Cabelo, unha, make
De costas pra banda
quadrada
Por Daniela Magalhães
O mel. Ensejo.
Desde onde que vejo
Fingir astúcia.
Finjo que sinto o gosto de tempo
De muita austeridade e verso
Acho que entendo.
O que a gente tenta sentir do verbo...
Ou do vento,
O que não passa
E,
além do intento,
O que não prestou.
A gente ainda acha,
Que termina essa merda...
Ilustração: Cacinho
Por Camilla Silva
Sonhei que estávamos todos vacinados e que podíamos brincar novamente de ser feliz...
Voavam Marielles, Carolinas de Jesus, Abdias num mundo de tantas cores e mais igualitário.
Sonhei que um grupo de coração grande e ás vezes de pavio curto sonhou em Luta e urgiu o Luto!
E outros lutaram juntos.
Arco íris, poesias, devaneios, faíscas, labaredas surgiam e tudo era tão mágico...
Quase um conto de ninar para o pesadelo ir embora...
Sonhei que corações feridos caíram em lágrimas na beira de um rio. Será que era sonho? Eu vi! Tenho certeza que vi! Lágrimas de amor escorrendo em pleno domingo ensolarado de manhã.
Uma pessoa que um dia gritou voa longe Pavio chorou...
Afinal... em meio ao caos o grupo Luto permaneceu aos sonhos...
2 anos se passaram...
Quantas histórias...
Eu Luto!
E chegaram mais...
Uns foram...
Outros voltaram...
Sonhei que o perdão acontece... e o amor permanece...
Voa longe Pavio!
Sonhei que estávamos vacinados... E que da Luta eu Luto!
Ilustração: Clovis Lima
quinta-feira, 11 de agosto de 2022
A força das montanhas
Ju Kerexu
Sou as montanhas que com sua paciência espera suas filhas e filhos retornarem aos seus pés.
Sou as montanhas que se viram em águas, que seguem com a maior paciência e resiliência o tempo da natureza agir…
Sou as montanhas que descansam tranquilas ao aguardo do retorno de seus antepassados.
Sou a força das montanhas, que se mantêm em sentinelas, observando com atenção a chegada e o passar dos tempos, que sabiamente aguarda.
Sou as águas que vêm das montanhas, que com suas águas sagradas curam as feridas do tempo que insistem em se abrir a cada tropeço que a humanidade dá.
Sou o sagrado que te atravessa sem saber, pois sou a raiz que te mantém firme, neste chão.
Ilustração: Cacinho
Ser porque é
Por Fabíola Rodrigues
O toque quente do sol no meu corpo acariciado pelo vento
Meus pés tateando a areia onde as ondas beijam o mar...
Tudo é encantamento. É vida a transbordar
Meu olhos mareados da saudade são marcados pela verdade
E vibram também a liberdade
Pois quem já pariu um mundo sabe a dor que é ser mulher
Ser porque é...
Ilustração: Cacinho
sexta-feira, 17 de junho de 2022
VIRÃO
Por Eduardo Alves
Dias nublados
Ares cinzentos
A alegria foi passear
Pediu licença
Abriu novos caminhos
Sigo sozinho
Vou carregando a dúvida
Nada se abriu
Uma flor não brotou na rua
As estrelas estão encobertas
A lua escondeu sua face
O tempo fechou
O que resta é seguir
Sozinho, sorrindo
Com a flor na pele
Aberto para encontros
Eles virão
Hoje ou amanhã
Pode ser
Mas virão
Ilustração: Cacinho
Sabiás
Por Fabíola Rodrigues
Estou aqui a me lembrar
que o sol há de brilhar
E o mundo a girar em Roda Viva
Ainda hei de ouvir cantar
por todo canto Sabiás
a acordar a esperança adormecida
E saber fazer a hora
O Infame irá cair
em um brado retumbante
O luar há de surgir
Entre Estrelas cintilantes
Ilustração: Cacinho
Pés descalços a caminhar
Por Ju kerexu
Ao andar pelas trilhas das matas...
Ao andar pelo caminho dos bosques...
Ao andar pelo caminho das pedras das grandes cidades, que já foram matas verdejantes, cidades que já foram aldeias...
Hoje ando com os pés descalços, para sentir de volta aquela vida, aquela energia das matas, das águas sagradas...
Quero aqui caminhar com meus guias, meu parentes, meus amigos, minhas irmãs, com cores e CANTOS...
Queremos aqui pisar com firmeza, com amor e gratidão no coração...
Vamos caminhar com os pés descalços, para sentir de volta a ancestralidade que aqui outros viveram e vivem...
Nas trilhas das matas, nas trilhas dos bosques, nas trilhas de pedra das grandes cidades, ali estamos! Carregando com a espiritualidade, a ancestralidade está presente!
Somos fortes, somos guerreiras e guerreiros, somos gritos, somos vozes que aqui viveram e vivem...
Vamos pisar com firmeza neste chão sagrado, com muito orgulho, somos cores, somos vozes dos cantos ancestrais!!!
Ilustração: Cacinho
O DESENCANTAMENTO DAS RUAS
Por Eduardo Alves
Nas ruas não há almas encantadoras
Nas ruas, com ou sem a luz só há medo
Nas ruas as almas encantadoras
Suspiravam o sopro da liberdade!
As ruas hoje, com o medo presente,
Suspiram o sopro do medo
A inversão das ruas não se faz pelo vento
A inversão das ruas é feita pelas pessoas
Não são todas as pessoas
Mas é um punhadinho de pessoas
Com poder para impor o medo na multidão
Basta quem compre para matar
Basta quem tenha o que pagar pela morte
E onde não há como se empregar,
Haverá também quem se emprega para desencantar
O suspiro que vem em sopro sórdido
Tiram a vida sem trégua de Dom e do Indigenista!
Basta ser pessoa reconhecida na gira da justiça
Para os poucos seres existentes na sórdida força do lucro,
Arrancar a vida e forçar a morte
A morte é forçada no corpo, na alma, nos sonhos
A alma da rua assim só tira o encantamento que podemos conquistar
Vamos fazer valer a vida e fazer o encantamento predominar.
Ilustração: Cristóvão Villela
domingo, 1 de maio de 2022
PaviANOS
Por Camilla Silva
1 ano
Chama reacendendo...
Como fogos de artifício num ano que se inicia!
Pra nós ARTEfício...
Magia
Força
Inspiração
Amor
Movimento
Afeto
Militância
AMIZADE
Às vezes labaredas
Às vezes chama
Que chama!
Às vezes o Pavio era Curto
Tudo isso junto!
E vira poesia!
POESIA!
TransformAÇÃO!
1 ano...
Quanta história...
Riso
Choro
Abrigo
Afago
Partida
Pares
E cá estamos parindo novamente essa chama que nunca apagou...
Porque vem da alma!
1 ano...
E só estamos começando!
Século XXI
É a mesma seca no sertão
É a mesma sujeira na eleição
Qual foi a verdadeira evolução?
Não há cura...
É a mesma desnutrição
Mesma falta de educação
Ainda a mesma situação
Não há cura...
Nos homens igual ambição
Pelas ruas mais poluição
Ainda não há solução
E não há cura.