sábado, 1 de abril de 2023

Respostas ao Thiago

Por Daniela Magalhães



Focava na casta arrasada

De fada e de luz

Focava na farda

Até entre o pus

Mas tarda

Mas tarda

A tarde sem farda

Sem fada

Não basta o tempo do espírito?

Ou a cola dos números?


A carta um dia chegava

Nunca mais

A porta um dia quebrava

A chave um dia sumia

Continua la

A grade um dia cedia

Nunca vi tão forte

Já achei mais frias

A tarde

Essa sempre chega


Acordo meio que

Tropeço

Me enrolo no sol

Quando tem

Deixo cair

Que que eu to fazendo?

Pra onde vou

Tropeço

Ainda acordo meio que

Me esqueço no sol

Quando tem

Deixo cair mas não caio

Faz tempo

Tem que comer

Pra onde to indo mesmo?

Tem que comer

Me aqueço

Nem sempre danço

Pra quê?

Pra onde mesmo que eu to indo?

E olha que eu nem me perco

Já acordei

Meio que

Hoje não tem sol




* Dani Magalhães é nova acendedora do Pavio Curto. Circula na Região das Agullhas Negras/RJ e é coreógrafa, bailarina, baterista e poetisa.

Bem-vinda!!


Ilustração: Cristóvao Villela

Foto: Arquivo Pessoal


Homo céticos

Por Fabiola Rodrigues



Sons de armas explodem

Domínios de novas civilizações

Tendências caóticas homicidas

Gerenciadas por multidões


Decadências de almas que se atiram

Nas funções vagas do governo

Que instinto insiste em existir

Sem ouvir do povo o seu apelo


Mudanças no sistema e nas convenções

Segmentos sem guia ou visões

Novos conceitos para os pré-estabelecidos


Que serão criados pelos esclarecidos

Que desenvolvem notícias sem intenções

E armam guerras nas televisões  


Ilustração: Cristóvão Villela

As Folhas e o Vento

De Ju kerexu


Ando por lugares, que são guiados por meus ancestrais...


Sol, folha que desprendeu da árvore ancestral...


Sol, levada pelo sopro da sábia xejaryi (avó) que é o vento...


Sopros que me encorajam, que me levam sem perceber a lugares, nos espaços que em sonhos teria sonhado...


Somos feitos de sonhos, amores, pessoas que nos cercam, famílias, deixemos que os ventos nos atravessem, para dizer em sussurros os caminhos...


As folhas são nossos sonhos, deixem ele ser levado por nossa sábia velha senhora, para que ela possa colocar no seu devido lugar, que muitas vezes ficamos presos a elas...


É só deixar ir, nunca estará sozinha, o vento estará conduzindo...


Somos filhas e filhos do vento, somos folhas ao vento, somos sussurros de sabedorias guiadas pelos ancestrais...


Deixem soprar!


Ilustração: Cacinho

Por Daniela Magalhães


Procurei colchão largo

Pro meu campo de batalha

Encontrei no fio da saia


E o estrago da cabeça d'água

Achei, mas nunca vi


Me perdi no céu 

do trilho a nado

Água que não acaba

Entrando em verde amargo


E o estrago da jararaca

Eu vi, mas não bebi


Muito bonita, por acaso...

Somos todas Elas

De Ju Kerexu 

   

Sejamos como elas...

Sejamos Mulheres...

O mundo la pacha mama eres tu...

Somos nossas a vós, nossas bisavós, nossas mães...

Histórias, memórias, amores,Raízes, vidas...

A força das ancestrais nós trouxeram até aqui!

O mesmo caminho que nós foi dada,pisamos com força, sentido o coração da pacha mama bater,nos mesmos compasso com o nosso...

Sinta-se,ame-se, cuide-se, lute,lute,lute para nunca deixar de acreditar na sua força, no seu espírito de mulher...

Somos todas elas...

Somos a cura para o mundo...

Somos o sinônimo de amor infinito...

Aqui piso com força, reafirmo minhas ancestrais...

Aqui eu canto os mesmos cantos de cura das minhas avós, mães e filhas dessa mãe-terra...

Se olhe, vista-se com a roupas da ancestralidade,sinta ecoar em sua alma o mesmo sopros de cura e sabedoria das ancestrais...

Somos o início e o fim...

Corpos-mulher, aqui tão temida, aqui tão desprezada, aqui tão massacrada,aqui acorrentada,aqui desmembrada, mais que se enraizada nos ceios da pacha mama,assim florestas florescem para jogar suas sementes, nessa floresta da ancestralidade...

Quebraram-se as correntes, corpos massacradas de seu sangue derramado neste chão, se desabrocham para mostrar sua força...

Somos todas elas!


Reavive a mulher em ti,reavive suas raízes, reavive suas memórias de todas as mulheres em seu espírito. 

Sua força me fortalece,se ilumine sempre,assim todas juntas iluminamos o mundo!

Por Fabiola Rodrigues


Minha terra tinha Palmeiras

Hoje nela nada gorjeia

O veneno escorre na areia

Deixa sangrar sua tez

Onde antes pulsava vida

Vê se apenas insensatez


Mas segue aflita a esperança

A reflorestar o sagrado

A curar o agravo

Da flora, fauna feridas

Um novo pulsar nas veias

Um olhar futuro criança


Fará preservar sua riqueza

Cuidar do solo vital

Expurgar dos rios o extermínio

E dos corações toda incerteza

Brademos contra criatura vil,

Que te fez sangrar meu Brasil!

Por Daniela Magalhães


Tô com preguiça de resenha

De correr atrás da lenha

E botar fogo pra ninguém pular


Tô com frio de ver estrela

De comer sem ter a mesa 

Posta de fita congelada


Tô com medo de ver o mar

Ver o amor e afogar

Afobada


Acabei de conferir

Cabelo, unha, make

De costas pra banda 

quadrada

Por Daniela Magalhães





O mel. Ensejo.

Desde onde que vejo

Fingir astúcia.

Finjo que sinto o gosto de tempo

De muita austeridade e verso

Acho que entendo.



O que a gente tenta sentir do verbo...

Ou do vento,

O que não passa

E,

além do intento,

O que não prestou.



A gente ainda acha,

Que termina essa merda... 


Ilustração: Cacinho

Por Camilla Silva




Sonhei que estávamos todos vacinados e que podíamos brincar novamente de ser feliz...

Voavam Marielles, Carolinas de Jesus, Abdias num mundo de tantas cores e mais igualitário. 

Sonhei que um grupo de coração grande e ás vezes de pavio curto sonhou em Luta e urgiu o  Luto! 

E outros lutaram juntos. 

Arco íris, poesias, devaneios, faíscas, labaredas surgiam e tudo era tão mágico...

Quase um conto de ninar para o pesadelo ir embora...

Sonhei que corações feridos caíram em lágrimas na beira de um rio. Será que era sonho? Eu vi! Tenho certeza que vi! Lágrimas de amor escorrendo em pleno domingo ensolarado de manhã.

Uma pessoa que um dia gritou voa longe Pavio chorou... 

Afinal... em meio ao caos o grupo Luto permaneceu aos sonhos... 

2 anos se passaram...

Quantas histórias...

Eu Luto! 

E chegaram mais... 

Uns foram... 

Outros voltaram...

Sonhei que o perdão acontece... e o amor permanece...

Voa longe Pavio! 

Sonhei que estávamos vacinados... E que da Luta eu Luto!


Ilustração: Clovis Lima