Por Val Nunes
Essa é só pra quem é bandido,
Quem anda de magrela
E a nota fiscal é exigida
Só por cautela.
Quem é abordado no supermercado
Porque está de mochila.
Pra quem é confundido,
Quem faz um movimento suspeito,
Uma pele suspeita,
Um nariz suspeito.
"Quem tem um pezinho lá".
É só pra quem é bandido.
Pra quem tá correndo e encontra uma bala,
Quem tá parado e encontra uma bala,
Quem tá em casa e... Putz...
Cujas balas só se perdem em caminhos de corpos pretos.
Quem tá nos guetos,
Nas favelas,
Nas vielas,
Nos morros sem o básico do básico para viver:
Saúde,
Escola,
Lazer.
Só pra bandido
Que anda em meio ao esgoto a céu aberto.
Aaaaaah, o céu!!!!
Quando eu penso que é de lá que me vem o socorro,
O socorro vem de Brasília
Em meio à pandemia.
Que patifaria.
Help.
O Brasil tá lascado só pra "bandido pardo",
Preto e vermelho.
Cidadão de bem veste verde e amarelo.
Yello.
Oooo my god!!!!
Como cê vai virar Dotô com a barriga roncando,
Com o barraco caindo,
Com as pedras rolando morro abaixo,
Atropelando tudo que sua mãe construiu:
A beliche,
O “réqui”,
O guarda roupas com roupas doadas na enchente passada.
Essa é só pra quem é bandido,
Quem tá cansado,
Quem tá exausto,
Quem tá perdido.
Tentando se encontrar numa fresta de luz que for,
Se agarrando na linha da pipa pra num fazer merda,
Procurando um pedacinho do sol que nasce pra todos
Mesmo que for bem pequenino.
Que musa o mundo.
Que muda tudo.
Que traga o fim da desigualdade social,
O fim das mortes pretas,
O fim da corrupção na política brasileira,
Pra quem pensa
Como colher esperança
Num país que planta ódio.
Essa é só pra bandido!