sexta-feira, 17 de junho de 2022

VIRÃO



Por Eduardo Alves



Dias nublados 


Ares cinzentos 


A alegria foi passear 


Pediu licença 


Abriu novos caminhos 


Sigo sozinho 


Vou carregando a dúvida 


Nada se abriu 


Uma flor não brotou na rua 


As estrelas estão encobertas 


A lua escondeu sua face 


O tempo fechou 


O que resta é seguir 


Sozinho, sorrindo 


Com a flor na pele 


Aberto para encontros 


Eles virão 


Hoje ou amanhã 


Pode ser 


Mas virão 


Ilustração: Cacinho

Sabiás

Por Fabíola Rodrigues



Estou aqui a me lembrar 

que o sol há de brilhar

E o mundo a girar em Roda Viva

Ainda hei de ouvir cantar 

por todo canto Sabiás 

a acordar a esperança adormecida

E saber fazer a hora

O Infame irá cair

 em um brado retumbante

O luar há de surgir

Entre Estrelas cintilantes  


Ilustração: Cacinho

Pés descalços a caminhar

Por Ju kerexu



Ao andar pelas trilhas das matas...


Ao andar pelo caminho dos bosques...


Ao andar pelo caminho das pedras das grandes cidades, que já foram matas verdejantes, cidades que já foram aldeias...


Hoje ando com os pés descalços, para sentir de volta aquela vida, aquela energia das matas, das águas sagradas...


Quero aqui caminhar com meus guias, meu parentes, meus amigos, minhas irmãs, com cores e CANTOS...


Queremos aqui pisar com firmeza, com amor e gratidão no coração...


Vamos caminhar com os pés descalços, para sentir de volta a ancestralidade que aqui outros viveram e vivem...


Nas trilhas das matas, nas trilhas dos bosques, nas trilhas de pedra das grandes cidades, ali estamos! Carregando com a espiritualidade, a ancestralidade está presente!


Somos fortes, somos guerreiras e guerreiros, somos gritos, somos vozes que aqui viveram e vivem...


Vamos pisar com firmeza neste chão sagrado, com muito orgulho, somos cores, somos vozes dos cantos ancestrais!!!


Ilustração: Cacinho

O DESENCANTAMENTO DAS RUAS



Por Eduardo Alves




Nas ruas não há almas encantadoras 

Nas ruas, com ou sem a luz só há medo 

Nas ruas as almas encantadoras 

Suspiravam o sopro da liberdade!

As ruas hoje, com o medo presente, 

Suspiram o sopro do medo 

A inversão das ruas não se faz pelo vento 

A inversão das ruas é feita pelas pessoas 

Não são todas as pessoas 

Mas é um punhadinho de pessoas 

Com poder para impor o medo na multidão 

Basta quem compre para matar 

Basta quem tenha o que pagar pela morte 

E onde não há como se empregar, 

Haverá também quem se emprega para desencantar 

O suspiro que vem em sopro sórdido 

Tiram a vida sem trégua de Dom e do Indigenista!

Basta ser pessoa reconhecida na gira da justiça 

Para os poucos seres existentes na sórdida força do lucro,

Arrancar a vida e forçar a morte 

A morte é forçada no corpo, na alma, nos sonhos 

A alma da rua assim só tira o encantamento que podemos conquistar 

Vamos fazer valer a vida e fazer o encantamento predominar. 


Ilustração: Cristóvão Villela