sábado, 1 de maio de 2021

Soneto do dia seguinte

Por Paulo Cesar da Silva



Ao findar a prolongada tormenta, as trevas finalmente dissipadas,

Quero retornar inquieto, feito criança, apossar-me de parques e praças,

Ocupar alamedas e vielas, cantar e protestar na mesma pólis fraturada.

Irei expandir os sentidos, reconectar a ternura, relimar os afetos.


Que a natureza seja cúmplice ativa de todos os meu gestos.

Que o planeta respire, que a terra inspire novos mantras de cuidado

Enquanto se aprende que a essência ainda provém de pequeninos frascos.      

Longos pesadelos despertam para a imprescindível urgência da fantasia. 


Vamos conceber um novo dialeto onde as palavras serão como flores, jamais como facas:

Suavemente penetrarão os ouvidos como a delicada harmonia das canções do belo Milton.

A poesia será permitida a qualquer hora do dia, bem como mergulhar pés descalços nos gramados e rios.

Vamos cultivar as esperanças fora dos cativeiros, que limitavam nossa humana capacidade de transcender.

Seremos finalmente curados das intolerâncias, da hipotermia do consumo, do egocentrismo cósmico.

Nos encontraremos, nos reconheceremos passageiros da mesma arca, intrépidos habitantes do mesmo lar.



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